terça-feira, 17 de agosto de 2010

O medo

É uma pena mesmo, alguns se vão, outros chegam.
Queria eu acumular todos.
Será uma troca justa? jamais.
Só o futuro dirá. São tantas as novidades acumuladas que desgastam.
Foram tão desejadas e corre-se atrás do tempo perdido.
Anos em poucos meses...meio exagerado,
mas se soubessem as evoluções, os passos, as quebras de medos e rotinas.
O lema de 2010 é: sair da zona de conforto.
E não acaba por aqui. vem mais, bem mais!!!
Sem censura, sem zoeira, não é assim que se exprime por aqui, leia quem quer, leia quem suportar minhas frases e vírgulas infinitas.
A conclusão é que o medo é a força motriz desencadeante (copio).
É o medo o principal fator que afeta os seres vivos, racionais e irracionais, que os une.
Muitas saudades, muitas mesmo, naturalidade, aos poucos, com mais medo, paradigmas que não podem se quebrar, afinal, lições devem ser aprendidas e aplicadas, erros não se podem repetir.

domingo, 6 de junho de 2010

Elogio da sombra

A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão)
pode ser o tempo de nossa felicidade.

O animal morreu ou quase morreu.

Restam o homem e sua alma.

Vivo entre formas luminosas e vagas

que não são ainda a escuridão.

Buenos Aires,

que antes se espalhava em subúrbios

em direção à planície incessante,

voltou a ser La Recoleta, o Retiro,

as imprecisas ruas do Once

e as precárias casas velhas

que ainda chamamos o Sul.

Sempre em minha vida foram demasiadas as coisas;

Demócrito de Abdera arrancou os próprios olhos para pensar;

o tempo foi meu Demócrito.

Esta penumbra é lenta e não dói;

flui por um manso declive

e se parece à eternidade.

Meus amigos não têm rosto,

as mulheres são aquilo que foram há tantos anos,

as esquinas podem ser outras,

não há letras nas páginas dos livros.

Tudo isso deveria atemorizar-me,

mas é um deleite, um retorno.

Das gerações dos textos que há na terra

só terei lido uns poucos,

os que continuo lendo na memória,

lendo e transformando.

Do Sul, do Leste, do Oeste, do Norte

convergem os caminhos que me trouxeram

a meu secreto centro.

Esses caminhos foram ecos e passos,

mulheres, homens, agonias, ressurreições,

dias e noites,

entressonhos e sonhos,

cada ínfimo instante do ontem

e dos ontens do mundo,

a firme espada do dinamarquês e a lua do persa,

os atos dos mortos,

o compartilhado amor, as palavras,

Emerson e a neve e tantas coisas.

Agora posso esquecê-las. Chego a meu centro,

a minha álgebra e minha chave,

a meu espelho.

Breve saberei quem sou.



Jorge Luis Borges

segunda-feira, 15 de março de 2010

Tabacaria

Não sou nada.
Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


Janelas do meu quarto,

Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é

(E se soubessem quem é, o que saberiam?),

Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,

Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,

Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,

Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,

Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,

Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.


Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.

Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,

E não tivesse mais irmandade com as coisas

Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua

A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada

De dentro da minha cabeça,

E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.


Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.

Estou hoje dividido entre a lealdade que devo

À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,

E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.


Falhei em tudo.

Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.

A aprendizagem que me deram,

Desci dela pela janela das traseiras da casa.

Fui até ao campo com grandes propósitos.

Mas lá encontrei só ervas e árvores,

E quando havia gente era igual à outra.

Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?


Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?

Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!

E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Gênio? Neste momento

Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,

E a história não marcará, quem sabe?, nem um,

Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.

Não, não creio em mim.

Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!

Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?

Não, nem em mim...

Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo

Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?

Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -

Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,

E quem sabe se realizáveis,

Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?

O mundo é para quem nasce para o conquistar

E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.

Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.

Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,

Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.

Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,

Ainda que não more nela;

Serei sempre o que não nasceu para isso;

Serei sempre só o que tinha qualidades;

Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,

E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,

E ouviu a voz de Deus num poço tapado.

Crer em mim? Não, nem em nada.

Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente

O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,

E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.

Escravos cardíacos das estrelas,

Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;

Mas acordamos e ele é opaco,

Levantamo-nos e ele é alheio,

Saímos de casa e ele é a terra inteira,

Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.



(Come chocolates, pequena;

Come chocolates!

Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.

Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.

Come, pequena suja, come!

Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!

Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,

Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)


Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei

A caligrafia rápida destes versos,

Pórtico partido para o Impossível.

Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,

Nobre ao menos no gesto largo com que atiro

A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,

E fico em casa sem camisa.


(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,

Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,

Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,

Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,

Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,

Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,

Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -

Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!

Meu coração é um balde despejado.

Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco

A mim mesmo e não encontro nada.

Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.

Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,

Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,

Vejo os cães que também existem,

E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,

E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)


Vivi, estudei, amei e até cri,

E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.

Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,

E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses

(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);

Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo

E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente


Fiz de mim o que não soube

E o que podia fazer de mim não o fiz.

O dominó que vesti era errado.

Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.

Quando quis tirar a máscara,

Estava pegada à cara.

Quando a tirei e me vi ao espelho,

Já tinha envelhecido.

Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.

Deitei fora a máscara e dormi no vestiário

Como um cão tolerado pela gerência

Por ser inofensivo

E vou escrever esta história para provar que sou sublime.


Essência musical dos meus versos inúteis,

Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,

E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,

Calcando aos pés a consciência de estar existindo,

Como um tapete em que um bêbado tropeça

Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.


Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.

Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada

E com o desconforto da alma mal-entendendo.

Ele morrerá e eu morrerei.

Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.

A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.

Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,

E a língua em que foram escritos os versos.

Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.

Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente

Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,


Sempre uma coisa defronte da outra,

Sempre uma coisa tão inútil como a outra,

Sempre o impossível tão estúpido como o real,

Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,

Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.


Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)

E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.

Semiergo-me enérgico, convencido, humano,

E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.


Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los

E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.

Sigo o fumo como uma rota própria,

E gozo, num momento sensitivo e competente,

A libertação de todas as especulações

E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.


Depois deito-me para trás na cadeira

E continuo fumando.

Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.


(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira

Talvez fosse feliz.)

Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).

Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.

(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)

Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.

Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo

Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.



Álvaro de Campos

terça-feira, 2 de março de 2010

devaneios a meia noite

O que nos faz parar pra escrever enquanto estamos em meio a tanto caos dentro e fora das nossas vidas? As vezes eu penso se não seria melhor morar numa casinha de sapê no meio do nada, não fazer nada e não aprender nada. Ficar lá, olhando pro mato, alimentando o cachorro e cuidando da horta. Sem televisão, sem radio,sem nada...ei, tá parecendo mais um reallity show para alimentar o gosto sádico do ser humano em bisbilhotar a vida alheia....não é não! Não é querer provar a alguém ou a si mesmo que eu consigo ... bem, como se diz... ser um exemplo de superação! Até porque este tipo de argumento virou a nova moda Manuel Carlística das nove horas da noite! Ás dez todo mundo já se esquece e se prepara para mais um reallity show! Na hora de dormir ninguém mais se lembra do depoimento do final da novela! O que será aquilo? Tudo bem uma desgraça de vez em quando, eu até aguento, mas todos os dias, naquele mesmo horário e naquele mesmo bat canal??? Será que conversar com Manuel Carlos é como ficar sentado conversando (fazendo sala) com aquelas senhoras que só curtem falar de doenças, acidentes e desgraças dos vizinhos amigos e do mundo??? Será que realmente não vale um Chaves (o mexicano, não o venezuelano, muito engraçado porém este também) de vez em quando só pra dar uma descontraída no final de um dia estressante. Talvez não seja um melhor remédio do que desgraças dos personagens burgueses da novela. Ah! que por sinal o clichê entre pobres e ricos naquela novela tá cada vez mais ridiculo! Os pobres compram vinho barato em promoção no supermercado e por isso tem que fazer um jantar comemorativo e chamar toda a vizinhança (uma garrafa nem rende tudo isso), paga prestação da tv tela plana em 12 vezes...na boa, tem que mostrar isso? constribui em alguma coisa na cultura da sociedade? Já o rico invés...sem comentários...na verdade só vou mencionar os clichês: Paris, empregada de uniforme de pé esperando a familia tomar café da manhã (sendo que algumas vezes lhe é permitida a palavra), fazer compras e ir ao cinema (programa preferido da mulherada), enquanto os homens obrigatoriamente as traem. Bom, eu não queria criticar a novela, até porque sou uma expectadora da mesma, mas a Globo tem potencial pra criar obras de arte, já provou isso muitas vezes, garanto que o povo vai curtir tirar proveito de alguma informação passada lá., pois aprenda: o povo não é trouxa, por isso mesmo tá escolhendo assistir novelas de outros canais! Eu curto uma fantasia hollywoodiana pra me tirar dessa realidade que nos circunda, mas precisamos de um pouco de originalidade, não acham? E não pegar a fórmula, juntar os mesmo ingredientes e mudar os nomes dos personagens...epa, péra aí...a Helena continua! A eterna trouxa Helena...

Esta postagem é dedicada ao fellow da FGV que leu meu blog, e pasmem, curtiu!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

EPITÁFIO

Devia ter amado mais

Ter chorado mais

Ter visto o sol nascer

Devia ter arriscado mais

E até errado mais

Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado

As pessoas como elas são

Cada um sabe alegria

E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar distraído

O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos

Trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos

Com problemas pequenos

Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado

A vida como ela é

A cada um cabe alegrias

E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar distraído

O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos

Trabalhado menos

Ter visto o sol se pôr...


Epitáfio


Titãs

Composição: Sérgio Britto

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

just: TEATRO DOS VAMPIROS

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto...

E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos
Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres

Nós não estamos...

Vamos sair!
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego...

Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...

Vamos lá, tudo bem!
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar...

Quando me vi
Tendo de viver
Comigo apenas
E com o mundo
Você me veio
Como um sonho bom
E me assustei

Não sou perfeito...

Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito
Tive medo
E não consegui dormir...

Vamos sair!
Mas estamos sem dinheiro
Os meus amigos todos
Estão, procurando emprego...

Voltamos a viver
Como a dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas...

Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal prá ir...

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Parêntesis de Raul

Só um parêntesis: EU PRECISO COLOCAR ESSA MÚSICA DO RAUL! Pois pra mim ela tem um grande significado! Praticamente descreve os casamento e divórcio dos meus pais! Como Raulzito conseguiu descrever um casamento anos 70-80 pós hippie, adentrando à vida de classe média burguesa!
Arrivederci!

É pena que você pense

Que eu sou seu escravo
Dizendo que eu sou seu marido
E não posso partir

Como as pedras imóveis na praia
Eu fico ao teu lado
Sem saber dos amores que a vida me trouxe
E eu não pude viver

Eu não posso entender tanta gente
Aceitando a mentira
De que os sonhos desfazem aquilo
Que o padre falou

Porque quando eu jurei meu amor
Eu traí a mim mesmo
Hoje eu sei que ninguém nesse mundo
É feliz tendo amado uma vez

Uma vez eu perdi o meu medo
O meu medo, o meu medo
O meu medo da chuva
Pois a chuva voltando pra terra traz coisas do ar
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar


MEDO DA CHUVA
Raul Seixas-Paulo Coelho